“Uma voz dizia-me para matar o meu filho…”

Os sintomas estavam todos lá… e o que diziam de Fernanda é que o seu estado era grave e preocupante para o seu bem-estar físico e de quem lhe era mais próximo

Tanto a higiene diária, como a alimentação passaram a ser descuradas por Fernanda, claros sinais de que não se tratava apenas de uma tristeza profunda ou falta de motivação na vida. “Sofria de esquizofrenia, mas, a par disso, também de uma depressão pós-parto que se tornou profunda. Foi logo na semana a seguir ao meu filho ter nascido que começaram a vir à minha mente os pensamentos de acabar com a vida dele. Em diversas ocasiões, tive de fugir da casa, porque os pensamentos eram tão fortes, que tinha medo de mim própria, do que poderia fazer.”

DESCONTROLO TOTAL

“Numa determinada ocasião, estava na cozinha a preparar o jantar e quando tomei consciência, já estava no quarto do meu filho com uma faca na mão para o matar. Nem sequer me recordo de ter saído da cozinha e ter chegado ao quarto. Aliás, este era um dos sintomas da esquizofrenia. Por vezes, deparava comigo em sítios e não sabia como tinha lá chegado. Andava como uma louca, de um lado para o outro, sem destino ou objetivo.”

VISÕES E AUDIÇÕES

“Os pensamentos eram muito fortes, assim como a voz que me dizia ‘pega numa faca e mata o teu filho!’. Eu lutava contra mim mesma porque não queria fazer aquilo, porém, as vozes estavam a ficar cada vez mais fortes e eu não tinha consciência do que estava a fazer. Cheguei ao ponto de procurar ajuda psiquiátrica e de pedir a ajuda de uma irmã para me fazer companhia, pois eu tinha medo de tratar do bebé. Para além das vozes que ouvia, também sentia presenças estranhas.”

A MEDICAÇÃO

“Tomava cerca de 10 comprimidos por dia, porque eu não dormia, na verdade, eu chegava a fazer a limpeza da casa durante a noite. A medicação era tão forte, mas tinha o efeito contrário, já que eu dormia durante o dia e passava as noites acordada. A medicação atenuava um bocado os sintomas, mas não era a solução, pois os pensamentos continuavam lá. O psiquiatra disse que se a medicação não fizesse efeito, que teria de ser internada, já que os meus pensamentos eram muito graves. A minha autoestima desapareceu e passava os dias a chorar. O meu marido já não me reconhecia, pois deixei de ser a Fernanda que ele conheceu, bem-disposta, brincalhona, com uma boa autoestima. Até o nosso casamento foi abalado, pois até o nosso filho tinha muitos problemas de saúde, como falta de ar, levando-o muitas vezes ao hospital.”

O CONVITE

“A minha mãe já frequentava a Universal e já me tinha convidado inúmeras vezes, mas eu rejeitava sempre o convite. Já a sofrer de depressão há muitos anos, houve ‘o dia do fundo de poço’ e disse à minha mãe que já não tinha nada a perder e aceitei acompanhá-la. Fui muito bem recebida, aconselharam-me, ajudaram-me… chorei durante toda a reunião. Porém, nesse dia, quando fui para casa, já senti uma paz interior que não sentia há muito tempo e, nessa noite, já dormi a noite toda, sem qualquer medicação. Senti-me tão bem e feliz, que decidi voltar! Fiz as correntes de libertação, à sexta-feira, comecei a ir às quartas, domingos, e passei pelo processo de libertação! Ao fim de praticamente 1 mês já não tinha qualquer sintoma. A medicação foi sendo reduzida, até que deixei de a tomar. Hoje está tudo bem e o Espírito Santo está no comando da minha vida!”

Fernanda Fernandes

Fonte: Folha de Portugal