“Chegava a maltratar os outros…”

Como é que descreve o vazio e o complexo de que sentia?

Rosy: Sentia um vazio muito grande dentro de mim, acompanhado de um complexo de inferioridade. Sentia-me incapaz… fazia as coisas até certo ponto, mas acabava por não concluir, pois não fluía, o que me levava a fazer-me sentir diferente das outras pessoas.

As atitudes mais agressivas que demonstrava eram uma capa para disfarçar o seu estado de alma?

Rosy: No trato com as outras pessoas mostrava-me arrogante e seca nas palavras. Chegava a ser agressiva e a maltratar os outros. Muitas pessoas não gostavam de mim por eu ser dessa forma, sem saberem que, no fundo, que eu sofria muito por ser assim, sentia-me mal, pois sabia que tinha errado. Hoje consigo ver que era a minha forma de defesa. Eu sorria, brincava, mas, no meu interior existia, na realidade, um desejo de morte. Desde os meus 12 anos, pensava em matar-me diariamente, facto que se veio a agravar quando fiz 16, diante da morte trágica e repentina do meu pai. Passei a fumar, beber até cair, sempre com o pensamento de cometer suicídio por companhia. A minha angústia era terrível. Sentia-me enclausurada no meu mundo.

Sentia-se sozinha?

Rosy: Sentia-me sozinha no mundo, mesmo rodeada de pessoas, de família ou amigos. Como era a filha mais nova, era muito apaparicada, mas ninguém sabia do meu sofrimento interior. Acabava por não conseguir dormir e tinha o pensamento constante de que algo mau estaria para acontecer na minha vida.

Como descreve a sua solidão?

Rosy: Ao mesmo tempo que queria fazer, desenvolver alguma coisa na minha vida, independentemente da área, não conseguia, pois, essa tristeza quase crónica e vazio interior, que se aliava à sensação de ser menor, menos importante, do que as outras pessoas, diziam que eu não era capaz. Na minha perspetiva, todos os outros conseguiam, mas eu não… Por isso, acreditava que nunca iria ser alguém. Ficaria para sempre estagnada no meu ‘mundinho’, sem a possibilidade de desenvolver.

Hoje relaciona a um afastamento de Deus?

Rosy: Hoje, sei que tudo o que passei se traduz na falta de Deus na minha vida. Eu, simplesmente, não O procurava, não O conhecia e nem sequer fui ensinada a ter esse temor a Ele. Por isso, o mal agia na minha vida de todas as formas, em pensamentos, atitudes… na realidade, eu sofria de uma depressão muito forte, até que chegou o momento em que tudo isso acabou!

Sentia alguma forma de perturbação?

Rosy: Nessa altura, mesmo quando estava para adormecer, todas as noites sentia uma mão a apertar-me o pescoço e a sufocar-me. Acordava em pânico e aos gritos, com a sensação de que ia morrer. Muitas vezes, também estava a conversar com uma pessoa e, de repente, algo tomava conta do meu corpo e uma sensação de que ia morrer naquele preciso momento invadia o meu ser. Tentava pedir socorro, mas ninguém compreendia o que estava a acontecer comigo.

Quanto tempo durou este sofrimento e o que mudou?

Rosy: Vivi assim muitos anos. Casei assim, tive os meus filhos assim.… depois do casamento as coisas pioraram, até que chegou o momento na minha vida em que a minha mãe conheceu este Deus maravilhoso e, através dela, comecei a frequentar a Igreja. Iniciou-se o meu processo de libertação, passei a obedecer à Palavra de Deus e hoje sou uma pessoa totalmente diferente. No meu interior tenho paz, alegria, amor, quando vejo alguém sofrer, sinto o desejo de ajudar as pessoas. Mas, o mais importante de tudo é o facto de Deus me ter concedido o Seu Espírito, que hoje habita no meu interior. Ele é que me preenche e transformou, por completo, a minha vida!

Rosely Nunes

Fonte: Folha de Portugal